Foi lançada na região Central do Rio Grande do Sul nesta
quinta-feira (2) a Campanha Máscara Roxa, que permite às mulheres vítimas de
violência doméstica fazerem denúncias em farmácias. A atividade, realizada por
videoconferência, foi organizada pelo Comitê Gaúcho ElesPorElas, da ONU Mulheres,
e contemplou as 33 cidades da Associação dos Municípios da Região Centro do
Estado (AMCENTRO).
A reunião foi coordenada pelo deputado estadual Edegar
Pretto (PT), que é o coordenador do Comitê Gaúcho ElesPorElas. Ele falou sobre
a origem da campanha, lançada oficialmente no último dia 10 de junho, numa
parceria com movimentos de mulheres, poderes do Estado e farmácias.
“Neste período de isolamento social devido à pandemia do
coronavírus, a violência contra as mulheres aumentou no mundo todo. Por isso a
ONU recomendou que seus países constituíssem políticas de enfrentamento
envolvendo as farmácias, que são estabelecimentos de serviços essenciais e
estão abertas, mesmo em situações de lockdown”, explicou.
Ele acrescentou que a Campanha Máscara Roxa também foi
motivada pelo aumento de feminicídios no estado. Segundo a Secretaria de
Segurança Pública, 16 mulheres foram assassinadas por questões de gênero nos
meses de abril e maio. Somente em abril, o aumento foi de 66,7% em relação ao
mesmo mês do ano passado.
Ainda há outro fator, que é a subnotificação dos casos de
violência. “Muitas vezes as vítimas não conseguem denunciar, porque os
agressores monitoram o celular e os passos da mulher, principalmente neste
período de isolamento em que convivem mais tempo em casa. A Campanha Máscara
Roxa é um facilitador para que se possa fazer denúncias de forma segura em
farmácias”, argumentou o deputado.
Adesão e funcionamento da campanha
De acordo com Edegar Pretto, uma semana após o lançamento da
Campanha Máscara Roxa, ultrapassou o dobro do número inicial de farmácias com
adesão. Ela começou com 600 unidades, e já são 1.314 de quatro redes
envolvidas. De abrangência da AMCENTRO, 16 dos 33 municípios já possuem
estabelecimentos participantes. Até o momento, farmácias de cinco municípios já
receberam denúncias, em Venâncio Aires, Bento Gonçalves, Casca, Pinhal e Capão
da Canoa.
O deputado destacou que o objetivo dos lançamentos regionais
é envolver cada vez mais o setor privado e a sociedade civil para ampliar a abrangência
da campanha. Todas as farmácias com adesão estão com o selo “Farmácia Amiga das
Mulheres”, que serve para que as vítimas as identifiquem. Os atendentes estão
capacitados para o procedimento e para garantir a segurança da vítima.
Ao chegar na farmácia a mulher deve pedir a máscara roxa,
que é a senha para que o atendente saiba que se trata de um pedido de ajuda. O
profissional dirá que o produto está em falta e pegará alguns dados para
avisá-la quando chegar. Após, o atendente da farmácia passará à Polícia Civil
as informações coletadas, via WhatsApp, para que o órgão tome as medidas
necessárias.
Edegar Pretto lembrou que qualquer farmácia pode aderir.
Segundo ele, o objetivo é envolver também aquelas que não fazem parte de
grandes redes, mas que estão em cidades menores. “Não tem custo nenhum à
farmácia e a denúncia será repassada à Polícia Civil de forma anônima”,
garantiu. Interessados devem entrar em contato com o Comitê: 51 991993641| comite.gaucho.elesporelas@gmail.com
Lançamento regional com várias representações
Juíza do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher de Porto Alegre, Madgéli Frantz Machado disse que o Poder Judiciário,
neste período de pandemia, atuou para ampliar seus canais a fim de dar mais
segurança às mulheres em situação de violência. Ela destacou a importância da
campanha para ampliar o número de farmácias.
A promotora de Justiça Carla Souto, da Promotoria
Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
comentou que o grande desafio é fazer com que as vítimas de violência tenham
coragem e o desprendimento de fazer a denúncia. “A partir da campanha, estamos
dizendo que aqui no RS a violência contra a mulher não será tolerada, não será
naturalizada”.
Dirigente do Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria
Pública do Estado, a defensora Liseane Hartman apontou que a violência
doméstica é uma questão de saúde pública e que, neste período de pandemia, teve
um aumento considerável de feminicídios. Ela defendeu o envolvimento de todos
no enfrentamento a essa realidade. Disse ainda que a Campanha Roxa é
importante, porque é mais uma forma que a vítima tem de comunicar as agressões.
Bianca Feijó, diretora do Departamento de Políticas para
Mulheres do Estado, disse que representantes de muitos municípios gaúchos têm
entrado em contato, pedindo para divulgar em suas cidades a Campanha Máscara
Roxa, que caracterizou como uma iniciativa “muito ágil e rápida”.
A delegada Elizabete Shimomura, da Delegacia Especializada
em Atendimento à Mulher de Santa Maria, informou que o órgão estará atento a
todas as demandas que virão por meio da Campanha Máscara Roxa, não apenas no
sentido de acolher, mas também de fazer todo o procedimento necessário para que
as vítimas fiquem em segurança.
Major Tavares, representando o Comando Regional de Polícia
Ostensiva Central, ressaltou que Santa Maria já possui há cinco anos a Patrulha
Maria da Penha e que este ano ela também chegou a Santiago. Ele reforçou que a
Brigada Militar é parceira do combate à violência doméstica, agora também por
meio da Campanha Máscara Roxa. “Vemos com muito bons olhos mais essa
ferramenta”.
Representando a Farmácias Associadas, Reni Rubin comentou
que a campanha foi muito bem aceita e recepcionada pela rede, que está presente
na maioria dos municípios gaúchos. Ele acrescentou que cerca de 80% dos
clientes das associadas são mulheres. “Estamos muito felizes de estar
participando e de termos agora a adesão de outras farmácias individuais e de
outras redes”.
Presidente da AMCENTRO e prefeito de Tupanciretã, Carlos
Brum afirmou que há a compreensão da importância do engajamento dos municípios
na campanha e que a associação atuará nesse sentido. “Precisamos nos unir neste
momento para proteger as mulheres vítimas de agressões”.
A professora Laura Cortez, representando o Fórum de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, de Santa Maria, parabenizou às
instituições pela iniciativa. Ela informou na cidade foi lançada, via Fórum, a
campanha “Santa Maria 50-50” pela igualdade de gênero, bem como o Disque Covid
UFSM, que é mais um canal de comunicação para atender às mulheres vítimas de
violência.
A advogada Marina Callegaro, representando o Movimento de
Mulheres, argumentou que há uma preocupação constante devido ao aumento do
número de violência doméstica neste período de isolamento. Ela ainda
parabenizou pelo lançamento da Campanha Máscara Roxa.
A vereadora de Cachoeira do Sul, Telda Assis, representando
os poderes legislativos municipais da região, afirmou que há muito tempo é
travada a luta pelo fim da violência contra a mulher, através da Sala das
Margaridas na Polícia Civil e da Patrulha Maria da Penha na Brigada Militar.
Para ela, a Campanha Máscara Roxa vem a somar. “Vamos fazer um empenho para que
mais farmácias participem, pois é mais uma iniciativa que nos ajudará nessa
empreitada pela vida das mulheres.”
O deputado Valdeci de Oliveira (PT) elogiou a iniciativa do
Comitê Gaúcho ElesPorElas, classificando-a “como extraordinária e brilhante”.
Ele falou ainda que em Santa Maria há um grande grupo de homens e mulheres que
lutam contra qualquer tipo de violência, principalmente a de gênero.
Municípios que possuem Farmácias Amigas das Mulheres na região
da AMCENTRO
Fonte: Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul